| Padre Vicente e os meninos do internato. |
Ainda na década de 50, Padre Vicente foi nomeado coadjutor do então Cônego Eugênio Sales, para filhos um tanto fora de controle. O Instituto recebeu jovens para ajudar nos serviços sociais do programa SAR - Serviço de Assistência Rural. Este era um programa de atendimento a meninos "de comportamentos difíceis" oriundos das classes mais baixas da população. Era um programa voltado para a reeducação e socialização desses jovens, coordenado e financiado pela Igreja Católica.
Convencido pelo Cônego Eugênio Sales a ajudar na educação destes meninos recrutados pelo SAR, Padre Vicente resolveu adotar no Pio X o sistema de internato. Este novo modo de atuação do Instituto iniciou-se com um pequeno número de meninos, vindos de Natal. Gradualmente a fama de rigidez e disciplina do internato foi se espalhando pelo Estado, e muitos pais o procuraram para colocar seus filhos.
Uma observação curiosa é que o internato era composto essencialmente por meninos considerados "medonhos demais", para usar uma expressão local. Estes, não eram apenas enviados pelo programa SAR, mas também diversos filhos de pais de boa situação financeira, pessoas de prestígio na sociedade que consideravam seus de diversas cidades do Estado, chegando ao seu limite máximo de 70 internos.
Para manter a ordem e disciplina desses meninos de tão má reputação, Padre Vicente usava uma auxiliar que amedrontava a todos e foi íntima conhecida de várias gerações que passaram pelo Instituto: a palmatória "SOFIA". Ele a levava no bolso da batina, de modo a deixar seu cabo a mostra.
| Palmatória Sofia |
Certa vez, os filhos da senhora Irene Montoril, chegou em casa mais tarde do que o habitual, e indagado por ela, respondeu que o Padre havia deixado toda a sua turma de castigo e ainda, que havia dado quatro "bolos" com Sofia em cada aluno.
Na verdade, Sofia constitui um capítulo à parte na história do Instituto. Alguns pais não aceitavam seu uso, mas para estes, a resposta do Padre era que tirassem seus filhos do colégio, porque lá disciplina era algo fundamental, nem que fosse conquistada a base "dos bolos" de Sofia. Em contrapartida, alguns pais o apoiavam incondicionalmente, como era o caso da senhora Montoril, que revelou: "Se o Padre usava a palmatória era porque era necessário, eu nunca fui lá reclamar por ele ter batido num filho meu, se batia era porque tinha uma boa razão, eu e meu marido sempre o apoiamos".
O internato se manteve em funcionamento por 13 anos, e outra razão para que os pais enviassem seus filhos, foi a criação de um Ginásio Comercial, em agosto de 1959, que era o curso técnico de contabilidade, chamado Ginásio Comercial São Domingos Sávio, passando a funcionar a partir do ano seguinte.
Nessa época, funcionava em Lajes o Batalhão de Engenharia e parte dos professores do Ginásio Comercial eram militares do Batalhão, alguns sub-tenentes, o comandante, e também sua esposa, convidada para dar aulas de inglês. Este ginásio formou quatro turmas. E após o término do curso, seus alunos eram figuras de destaques em diversos processos seletivos para admissão destes em novas instituições de ensino.
Em consequência ao funcionamento do Ginásio, foi criado em 1961, o Grêmio Artístico Literário Governador Aluízio Alves. Esta associação tratava dos interesses dos alunos e da direção do Ginásio, além de organizar passeios, equipes para a prática de esportes e recreação em geral.
Em seus poucos anos de funcionamento, o grêmio teve três presidentes, que foram: João Batista da Silva; João Batista Cortez e Paulo Afonso de Paiva Cavalcanti. Uma importante atividade desta associação foi, em 1962, proporcionar aos seus membros a identidade estudantil, pouco comum para a época, chamada caderneta de estudante. Similar à carteira de estudante, tal como a conhecemos hoje em dia.
Com a criação de um ginásio estadual na cidade, o que funcionava no Instituto definhou. Não havia clientela para dois ginásios na região. Em consequência também de dificuldade financeiras das famílias que mantinham seus filhos no Ginásio particular, estes passaram para o colégio que oferecia o ensino gratuito. O ginásio Comercial São Domingos Sávio fechou suas portas.
Cerca de nesta mesma época, a demanda para o internato começou a diminuir, e o funcionário Manoel Paiva, que auxiliava o Padre, por motivos particulares precisou deixar o Instituto, ficando o internato sob os cuidados apenas da dona Netinha e de Padre Vicente. Este, já cansado do excesso de "traquinagens" dos alunos e também pelo alto custo do internato, que não era totalmente coberto pelas mensalidades pagas, resolveu fechá-lo, após 13 anos de funcionamento.
O Instituto passou a oferecer novamente apenas o ensino primário.
Fonte: TAVARES, Deise; PEREIRA, Evaneide Lúcia. Instituto Pio X: Meio século de sonhos, personagens e reminiscências. Natal/RN: Gráfica e Editora Fabigráfica - Natal/RN, 2004.